Gostaria de propor esta reflexão: espiritualidade é, acima de tudo, um trabalho sobre si mesmo.
É muito comum — e aceitável — que tenhamos a ideia de que evoluir espiritualmente é uma maneira de agradar a Deus.
Crescendo, estaríamos ajudando a Deus em seu trabalho de fazer evoluir a humanidade.
Mas a verdade é que Deus não precisa da nossa ajuda.
A natureza, nossa mãe, é autossuficiente — e talvez até agradeceria se nós simplesmente sumíssemos do planeta.
Não estamos aqui para salvar as pessoas, a natureza ou o mundo — estamos aqui para curar a nós mesmos.
O perigo de não entendermos isso é nos tornarmos arrogantes, donos da verdade, ainda mais intolerantes e julgadores.
Querer impor nosso modo de “evoluir” ao outro é desconsiderar o universo irrepetível que é cada indivíduo.
Agindo assim, estamos, na verdade, tentando nos curar trabalhando na cura do outro.
Impossível dar certo!
Nossa caminhada espiritual deve ser um instrumento de crescimento pessoal.
Compartilhando nossa jornada — com muita sorte — talvez possamos inspirar outros em suas próprias buscas, nunca perdendo de vista que crescer é responsabilidade individual.
Ninguém pode viver essa jornada pelo outro.
Qualquer um de nós, antes de pensar em mudar o mundo, tem que ter a humildade e a coragem de olhar para si e constatar que todas as suas dores internas foram curadas.
Quem levanta a mão primeiro?
Acho que ninguém teria coragem de dizer isso — pelo menos, não nesse grau de desenvolvimento em que nós, humanidade, nos encontramos atualmente.
Então, seria hora de respirarmos fundo e calçarmos as “sandálias da humildade” para nos colocarmos no mesmo degrau daquele a quem criticamos e olhamos de cima.
Cada um está fazendo o seu melhor.
E, ainda que esse melhor nos pareça pouco, temos que entender o esforço de cada um — que somente dá aquilo que já tem.
Se não há mais nada dentro dele, como ele irá dar mais?
Esse entendimento é uma forma muito amorosa de caridade.
E o melhor: esse olhar mais leve nos liberta.
Essa liberdade vem de percebermos que não precisamos mudar nada fora de nós mesmos — e que também não precisamos da validação externa para nos sentirmos bem.
Se você ainda não consegue pensar assim — pelo menos não o tempo todo — saiba que é isso mesmo: tamojunto!
Mas, quando conseguirmos — ou melhor, conforme formos, pouco a pouco, conseguindo atingir esse estado — iremos perceber que não há nada a ser feito para sermos felizes, que não precisamos mudar o mundo para encontrar paz.
A paz estará dentro de nós.
Na apreciação do presente.
No amor fati.
Sigamos, nos contentando em compartilhar as descobertas, os retrocessos, as reflexões e, talvez, com alguma sorte, uma sabedoria adquirida.